A Lenda dos dois irmãos - Capítulo 6: O favorito

          -Mufasa - Ahadi sussurrou na orelha do filho - Mufasa... Acorde - o filhote acordou, sonolento e olhou ao redor muito confuso - Venha, quero lhe mostrar uma coisa.
          Mufasa levantou e foi atrás do pai, ainda cambaleado.
          -Papai - ele sussurrou quando alcançou o pai - aonde vamos?
          -Shhhh - o pai fez - você vai ver.
          Uru e Taka continuavam dormindo e não perceberam quando pai e filho saíram da confortável e aquecida toca da Pedra do Rei.
          Mufasa, ao sair da caverna com o pai, percebeu que ainda não havia amanhecido e estranhou o pai ter acordado tão cedo e o levado junto.
         Ele olhou para trás e percebeu que todas as leoas e seus filhotes ainda dormiam e sonhavam.
          -Venha, meu filho - Ahadi disse e começou a subir pela escada irregular das pedras até no topo da enorme pedra. Queria mostrar ao filho todo o seu reino, já que um dia seria dele.
          Os dois chegaram lá em cima e Mufasa estava ofegante.
          -Papai! Papai! - ele parou ao lado de Ahadi - o que estamos fazendo aqui? Porque ainda é de noite?
          -Meu filho - o rei começou - venha - eles sentaram perto da borda da enorme rocha, Mufasa recuou um pouco ao ver toda a altura e se escondeu entre as patas do pai.
          -Papai... - ele disse, baixinho - aqui é tão alto...
          O pai não pode deixar de rir.
          -Mufasa - ele disse - sente-se ao meu lado - o filhote o fez. - O que você vê?
          O filhote olhou ao redor e pensou um pouco antes de responder:
          -Muitas terras, árvores, e rochas, e...
          -Isso mesmo, filho - o pai riu - isso será tudo seu um dia.
          Mufasa sorriu:
          -Sério papai? - ele perguntou, empolgado - tudo isso? As árvores, o campo e até os animais?
          -Isso mesmo meu filho. Tudo isso.
          -E eu vou mandar em tudo isso como o senhor? - Mufasa olhou para o pai.
          -Vai - o pai sorriu.
          Uma pequena dúvida pareceu atravessar os olhos do filhote.
          -Mas papai...
          -Hum?
          -E Taka? - o filhote olhou para Ahadi.
          -Taka - o pai pareceu pensar um pouco - ele não é o mais velho. O mais velho é você - Ahadi falou vagarosamente, fixando o céu a sua frente.
          -Mas ele não vai me ajudar?
          -Isso depende de você - Ahadi disse simplesmente.
          Mufasa não entendeu o que o pai quis dizer, mas resolveu parar de falar.
          O sol começou a nascer numa mescla de vermelhos, laranjas e amarelos, tingindo o antes céu azul muito escuro com cores vibrantes, acordando todos os animais.

          Taka acordou com um salto de um pesadelo e viu que o irmão não estava ao seu lado. Ele se levantou e procurou o pai para avisar, mas ele também não estava mais lá. Sua mãe estava dormindo e ele ficou tentado a acordá-la e perguntar se ela não teria visto o pai e o irmão saindo para algum lugar. Mas ele não queria aborrecer a mãe e a deixou dormir.
          O filhote saiu silenciosamente de perto da mãe e passou por entre as outras leoas e filhotes que dormiam tranquilamente. Quando ele passou ao lado de Sarabi hesitou em chamá-la também, mas ele a conhecera no dia anterior e, mesmo a considerando uma grande amiga desde já, ainda não sabia se podia ou não confiar nela.
          Decidiu ir sozinho atrás do pai e irmão.
          Assim que ele parou bem em baixo da entrada da caverna e viu o sol dourado nascendo, ouviu uma leve risada vindo de cima de sua cabeça. Ao olhar na direção pode ver o pai sentado observando o nascer do sol. Taka sorriu e resolveu ir ao encontro do pai e lhe fazer uma surpresa. Procuraria o irmão mais tarde.
          Ele correu até o topo da Pedra do Rei, ainda sorrindo, mas quando chegou lá teve de segurar a língua para não gritar "Papai!"...
          O que ele fez, na verdade, foi recuar um pouco e baixar as orelhas. O sorriso sumiu do rosto de repente e uma lágrima se formou em cada um de seus olhos.
          Porque o pai tinha um favorito. E esse favorito que observava o nascer do sol, não era ele.